Um estudo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) identificou que cerca de 50% de diagnósticos de demência em adultos no Brasil poderiam ser evitados, caso fatores de risco fossem controlados. A pesquisa utilizou um banco de dados da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) com determinantes sociais e biológicos do envelhecimento. A amostra incluiu 9,4 mil pessoas com 50 anos ou mais.
O pesquisador Wyllians Borelli, pós-doutorando do Instituto de Ciências Básicas de Saúde (ICBS) e residente em neurologia no Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), explica que algumas doenças e alguns sintomas estão relacionados ao aumento do risco de demência.
“Sabendo esses fatores de risco, a gente estimou a prevalência e a frequência dessas doenças na população, e aí conseguimos estimar a porcentagem de casos de demência que podem ser evitados, caso esses fatores de risco sejam controlados em nível populacional”, diz.
O estudo foi conduzido no HCPA e teve como base o Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros (ELSI-Brasil). “É um banco de dados público que foi coletado em 2015 e 2016, em nível nacional, pela Fiocruz Minas Gerais, com o objetivo de estimar doenças, sintomas e várias patologias que acometem a população e tem uma característica principal que é o corte epidemiológico”, afirma Borelli.
De acordo com o pesquisador, o estudo foi desenvolvido em 2021 e levou de quatro a cinco meses para realizar a investigação, desenho de pesquisa e ver se era factível. A pesquisa foi publicada na revista The Lancet Regional Health – Americas em abril.
“O que a gente fez foi analisar, minerar esses dados, identificar esses fatores de risco e a associação deles com demência.”
Metade dos casos de demência no Brasil poderiam ser evitados, aponta estudo da UFRGS
Foram os 10 indicadores identificados como determinantes para desenvolvimento da demência e que devem ser acompanhados pelos serviços de saúde.
- nível de escolaridade
- perda auditiva
- hipertensão
- consumo de álcool
- obesidade
- tabagismo ativo
- depressão
- isolamento social
- inatividade física
- diabetes
A perda auditiva foi o fator de maior impacto, presente em 14,2% dos pacientes diagnosticados com demência e incluídos no estudo. Outros aspectos importantes foram inatividade física (11,2%) e hipertensão (10,4%).
“A gente sabe que três fatores de risco são os mais comuns, que são perda auditiva, hipertensão e sedentarismo. Fazer um programa nacional contra hipertensão com campanhas, com eventos, com aumento do alerta à população em relação a isso, acho que é o próximo passo.”
Ao separar os indivíduos por região do país, foi constatado que, quanto pior o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), maiores são os índices da demência. “Existem peculiaridades de acordo com as regiões que devem ser tomadas em conta pra traçar planos regionais. A gente mostra o panorama do que é mais comum e então sugere alterações que podem ser feitas.”
O pesquisador cita ainda um plano de prevenção ou de identificação precoce de perda auditiva como estratégia que poderia beneficiar toda a nação.
“O primeiro passo foi identificar os fatores de risco, o segundo é traçar estratégias de saúde pública”, considera.
O primeiro sinal de alerta para termos em relação a alguém, é quando o esquecimento começa a ser recorrente. Conforme Borelli, se a pessoa tiver entre 60 e 65 anos, convém fazer uma avaliação. Se for algo, é possível tratar antes, controlar fatores de risco e evitar que progrida. Ele destaca que há uma série de coisas pra se fazer na identificação precoce.
“Esquecer não é normal.”
Mesmo que melhorias sejam implementadas, os resultados levariam de 20 a 30 anos para serem observados.
“A gente faz a nossa parte, como pesquisador, mas a gente precisa de uma grande aliança com o governo e com a sociedade”. Borelli afirma que a pesquisa mostra os fatores de prevenção, mas não propõe um plano. “Claro que a gente pode ajudar nisso, mas ficamos limitados na nossa ação.”
Conteúdo original publicado por g1.globo